Desenhos da exposição selecionada (Cláudia Andujar):
Impressões
A primeira impressão que tive ao chegar ao prédio de exposição das obras da Cláudia Andujar ("A luta Yanomami") é a da conexão dessa estrutura com o meio que a envolve. O uso de tijolinhos cria articulação com a mata ao redor, convidando os visitantes a entrarem. A irregularidade de tijolos que se projetam para fora cria interesse. A entrada se dá por um longo corredor, esse movimento indireto gera um ambiente de transição que, mais que servir de ponte entre espaços diferentes, nos aprofunda na sensação de naturalidade já transmitida antes de começar a adentrar. Além disso, o modo como o formato da construção se expande e cria nichos, como o pátio conectado ao corredor inicial, incentiva a exploração, não só visual, dos visitantes.
Dentro da galeria, a branquitude das paredes, a falta de iluminação natural, as formas retas e os espaços vazios quebram a conexão com a exterioridade. Felizmente, Tal visibilidade é recuperada em alguns pontos do corredor interno pelo uso do vidro.
Quanto às obras em si, gostei muito da exploração estética do preto e branco presente na maioria das fotografias. Foi possível por em prática vários critérios avaliativos aprendidos em sala de aula com as atividades de corte, luz e sombra do papel. Nas imagens coloridas, que se dedicavam à natureza, percebi um jogo com a imaginação e figuração dos formatos das áreas retratadas; e um de movimentação pela repetição.
Nas diversas fotografias de indígenas yanomami, foi possível sentir emoções variadas pela expressividade dos corpos retratados e também observar aspectos pouco representados pela mídia quanto a esses povos, um lado mais humano e cotidiano. Diversas obras num primeiro momento causaram bastante estranheza, após revê-las, procurando ler as legendas, pude compreendê-las melhor, percebi que a contextualização ajudou. Na verdade, entendo que o estranhamento é fundamental em um trabalho de manifesto como esse, pois é nesse movimento que percebemos os detalhes antes negligenciados ou as violências naturalizadas.
A última exposição era particularmente engenhosa e criativa: uma imagem de um incêndio de uma moradia yanomami projetada com a interferência de uma pequena massa de água sempre em movimento. A refração "aleatória" da luz, motivada pelo movimento das ondinhas, provocava também o movimento das chamas projetadas. A exposição estava em uma sala totalmente escura, onde só se via a entrada, o projetor e a imagem. O escuro me amedrontou e o movimento das chamas significava continuidade. Assim, a mensagem sentida foi a da continuidade da violência.
De modo geral, o museu Inhotim é encantador, porque se expressa em suas obras, em sua arquitetura e em seu paisagismo. Porém, alguns pontos negativos cabem ser destacados. O primeiro é a quebra de expectativa de conhecer todas as exposições, pois é impossível pela escala extensa. Outro é a artificialidade do ambiente, que é muito controlado (seria o caso de buscar um maior desordenamento do paisagismo para promover o contato com uma natureza real?). Por fim, em algumas obras falta uma maior interface educativa com os visitantes, porque simplesmente são difíceis de sentir, ou, se possível, de entender, a mensagem.
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